Eu adoro te ler, mesmo que bissexta. Sempre me faz pensar mais no feminismo, nas minhas próprias atitudes e em como produzir futuro e subjetividade em meio a essa confusão em que estamos metidas.
Cheguei ao fim do texto triste. Era pra ser melhor, eu achava. À beira dos sessenta (afe), eu imaginei um outro futuro pra nós mulheres. E sei que ele não virá tão cedo. Vejo sobrinhas e queridas filhas de amigas com medo (por serem homo, por serem trans, etc.) e não posso simplesmente passar para o próximo sentimento.
Mais que tudo, me dói a falência da cidadania e do espaço público. A impossibilidade da conversa com o diferente. É dor mesmo, sabe? E não temos ainda nem antidepressivo nem ansiolítico para resolver o lance.
Cheguei como a Lúcia no final do texto: triste. Trouxe-me a sensação de que estamos andando pra trás quando achamos que estamos conquistando mais espaço. Sua reflexão foi genial. Com certeza passarei dias aqui pensando nela e lendo mais a respeito. E já peguei o livro “o homem não existe” pra ler. Obrigada, Re. 😘
Renata, acho que vc trouxe uma crueza necessária pro caso, um ponto que não li em outros textos, de como a misoginia é mais um tecido social que nos costura. MAS me incomodou como vc analisa um relato pessoal. Pareceu mais um dedo apontando na cara de outra mulher: "você hakeou! Você invadiu uma área privada." Talvez as mulheres e seus relatos pessoais não tenham qualquer função para o feminismo. O relato pessoal de um trauma precisa ter? Depois de tanto chorume que esse caso trouxe, de como o mercado editorial funciona, de como mulheres gordas eram mencionadas e camadas e camadas de problemas, acho que vc foi reducionista nesse ponto. Dois textos que não seriam possíveis sem esse relato:
Certamente um episódio de podcast depois de sumariamente debatido como o tema da vez, virado barraco, onde todo mundo tem que ter uma opinião, não vai mudar nada no feminismo e o mundo não vai deixar de ser misógino (muito menos os grupelhos supostamente progressistas da zona sul), e espero que ninguém tenha sido incocente a esse ponto, mas para mim, enquanto MULHER e creio que para muitas outras, mexe, remexe, agrega, machuca. Não é isso que as escritoras fazem?
Relatos pessoais tem muita função - o que eu coloco é que apenas o relato pessoal foi absorvido como narrativa e ponto de vista e não necessariamente irá trazer a justiça merecida a quem narra - se é quem narra busca justiça ou reparação. Sobre apontar o dedo na cara de outra mulher simplesmente estava dando contorno para o argumento de que público e privado tinham limites diferentes entre ontem e hoje. Mas: apesar da internet não ser livre, a interpretação ainda é. :)
E no entanto, o relato publico da dor não precisa servir ou ter função para o feminismo ou o fim do machismo, pois como diz annie ernaux, viver algo nos confere o direito imprescritível contar. Quanto ao livro de Lígia Diniz, é assumidamente um livro que, por razoes afetivas, trabalha só autores brancos e no registro da hetercisnormatividade, a partir do desejo da autora de `se sentir dentro do corpo e da mente de um misógino narcisista`. Só nisso que expus já tem um caminhão de problemas que acho que não vale a pena debater aqui, mas fica a dica do episódio do fio da meada, totalmente constrangedor, em que branca viana fica tentando contornar o machismo afetivo da autora.
Não disse que precisava ter função, mas se o objetivo é justiça e/ou reparação essa estratégia já foi absorvida e apreendida pelos nossos algozes. Sobre o livro da Ligia eu realmente só posso imaginar que você não tenha lido, sobre o episódio do fio da meada gostei muito de como a Branca é boa entrevistadora e se interessa pela Ligia mesmo tendo outro ponto de vista. Diálogo é assim que se constrói né? Não só com quem pensa como a gente.
Mas de onde se tirou que o objetivo da VB era reparação? E se falar, apenas falar, for a reparação necessária, já que a fala esteve obstruída por muito tempo? Sobre o livro da Ligia, e se discordar da sua leitura for só discordância e não ignorância (aka falta de leitura)? Praticamente fiz uma citação literal, mas talvez não tenha sido suficiente, então, vamos de aspas “de que outro modo eu poderia calçar os sapatos de um narcisista misógino?” (pos. 704, versão kindle). O desejo está expresso aí. Eu li, Renata, e acho que ela, curiosamente, faz no livro o que acusou no Itamar. Há um excesso de didatismo, só que no caso dela, voltado a explicar e justificar a literatura misógina/narcisista. O livro é ruim. Se ela não é obrigada a se render ao ganhador de um Jabuti (e não é mesmo), eu tampouco sou obrigada a me render ao livro dela só porque é cercado de uma baita ‘rede de apoio’, como aliás são os livros desses caras todos, esses anos todos, ganhando prêmios sabe-se lá o porquê (mentira, sabemos). A Branca é excelente entrevistadora, mas aquele episódio foi, para mim, muito desconfortável pq ela estava dirigindo demais a entrevistada que, claramente, escreveu sobre o oposto do que a Branca queria ouvir. Não foi diálogo, foi uma tentativa de salvar alguém que, no entanto, não pediu para ser salva (não por mulheres, pelo menos).
Eu não disse que o objetivo da Vanessa era a reparação. Isso é uma interpretação sua. A análise é sobre o momento em que estamos vivendo partindo desses casos. Sobre o livro da Ligia, desculpe se interpretei erroneamente o fato de vc não ter lido. Para mim o livro parte de um outro lugar - ler esses homens não com devoção mas exatamente os tirando desse pedestal. Mas, mais uma vez, interpretações. Fico feliz que o texto tenha mobilizado essa conversa.
completamente descaralhada da ideia ao descobrir a história do grupo do whatsapp dos alunos e também do tapete vermelho sem qualquer tapete. acho que vc é cirúrgica, não dá mais pra só falar. mas tbm não sei o que fazer. que angústia ser mulher!
Eu adoro te ler, mesmo que bissexta. Sempre me faz pensar mais no feminismo, nas minhas próprias atitudes e em como produzir futuro e subjetividade em meio a essa confusão em que estamos metidas.
Cheguei ao fim do texto triste. Era pra ser melhor, eu achava. À beira dos sessenta (afe), eu imaginei um outro futuro pra nós mulheres. E sei que ele não virá tão cedo. Vejo sobrinhas e queridas filhas de amigas com medo (por serem homo, por serem trans, etc.) e não posso simplesmente passar para o próximo sentimento.
Mais que tudo, me dói a falência da cidadania e do espaço público. A impossibilidade da conversa com o diferente. É dor mesmo, sabe? E não temos ainda nem antidepressivo nem ansiolítico para resolver o lance.
Te amo garota.
Cheguei como a Lúcia no final do texto: triste. Trouxe-me a sensação de que estamos andando pra trás quando achamos que estamos conquistando mais espaço. Sua reflexão foi genial. Com certeza passarei dias aqui pensando nela e lendo mais a respeito. E já peguei o livro “o homem não existe” pra ler. Obrigada, Re. 😘
triste essa realidade em que o ódio engaja mais do que tudo…
O capitalismo tá fechado com o patriarcado, lucros e privilégios mantidos e defendidos desde sempre.
é isso aí, amiga.
daqui a pouco faz 20 anos que nos conhecemos no backstage da luta feminista e seguimos aí.
grande beijo, obrigada pelo texto maravilhoso.
amo a escritora que você é :)
Obrigada Re! 'O homem não existe' tá na fila mas acho q vou adiantar ele.
Acho que talvez o gol desse texto talvez seja não ser usado por ninguém que está envolvido. Risos.
Renata, acho que vc trouxe uma crueza necessária pro caso, um ponto que não li em outros textos, de como a misoginia é mais um tecido social que nos costura. MAS me incomodou como vc analisa um relato pessoal. Pareceu mais um dedo apontando na cara de outra mulher: "você hakeou! Você invadiu uma área privada." Talvez as mulheres e seus relatos pessoais não tenham qualquer função para o feminismo. O relato pessoal de um trauma precisa ter? Depois de tanto chorume que esse caso trouxe, de como o mercado editorial funciona, de como mulheres gordas eram mencionadas e camadas e camadas de problemas, acho que vc foi reducionista nesse ponto. Dois textos que não seriam possíveis sem esse relato:
https://open.substack.com/pub/jessicabalbino/p/voce-ja-tomou-cerveja-com-homens?utm_source=share&utm_medium=android&r=1id3u3
https://open.substack.com/pub/caroltypes/p/uma-coisa-assim-de-meninos?utm_source=share&utm_medium=android&r=1id3u3
Certamente um episódio de podcast depois de sumariamente debatido como o tema da vez, virado barraco, onde todo mundo tem que ter uma opinião, não vai mudar nada no feminismo e o mundo não vai deixar de ser misógino (muito menos os grupelhos supostamente progressistas da zona sul), e espero que ninguém tenha sido incocente a esse ponto, mas para mim, enquanto MULHER e creio que para muitas outras, mexe, remexe, agrega, machuca. Não é isso que as escritoras fazem?
Um beijo!
Relatos pessoais tem muita função - o que eu coloco é que apenas o relato pessoal foi absorvido como narrativa e ponto de vista e não necessariamente irá trazer a justiça merecida a quem narra - se é quem narra busca justiça ou reparação. Sobre apontar o dedo na cara de outra mulher simplesmente estava dando contorno para o argumento de que público e privado tinham limites diferentes entre ontem e hoje. Mas: apesar da internet não ser livre, a interpretação ainda é. :)
Obrigada
É horrível não ter reestack só do comentário bom kkkk
E no entanto, o relato publico da dor não precisa servir ou ter função para o feminismo ou o fim do machismo, pois como diz annie ernaux, viver algo nos confere o direito imprescritível contar. Quanto ao livro de Lígia Diniz, é assumidamente um livro que, por razoes afetivas, trabalha só autores brancos e no registro da hetercisnormatividade, a partir do desejo da autora de `se sentir dentro do corpo e da mente de um misógino narcisista`. Só nisso que expus já tem um caminhão de problemas que acho que não vale a pena debater aqui, mas fica a dica do episódio do fio da meada, totalmente constrangedor, em que branca viana fica tentando contornar o machismo afetivo da autora.
Não disse que precisava ter função, mas se o objetivo é justiça e/ou reparação essa estratégia já foi absorvida e apreendida pelos nossos algozes. Sobre o livro da Ligia eu realmente só posso imaginar que você não tenha lido, sobre o episódio do fio da meada gostei muito de como a Branca é boa entrevistadora e se interessa pela Ligia mesmo tendo outro ponto de vista. Diálogo é assim que se constrói né? Não só com quem pensa como a gente.
Mas de onde se tirou que o objetivo da VB era reparação? E se falar, apenas falar, for a reparação necessária, já que a fala esteve obstruída por muito tempo? Sobre o livro da Ligia, e se discordar da sua leitura for só discordância e não ignorância (aka falta de leitura)? Praticamente fiz uma citação literal, mas talvez não tenha sido suficiente, então, vamos de aspas “de que outro modo eu poderia calçar os sapatos de um narcisista misógino?” (pos. 704, versão kindle). O desejo está expresso aí. Eu li, Renata, e acho que ela, curiosamente, faz no livro o que acusou no Itamar. Há um excesso de didatismo, só que no caso dela, voltado a explicar e justificar a literatura misógina/narcisista. O livro é ruim. Se ela não é obrigada a se render ao ganhador de um Jabuti (e não é mesmo), eu tampouco sou obrigada a me render ao livro dela só porque é cercado de uma baita ‘rede de apoio’, como aliás são os livros desses caras todos, esses anos todos, ganhando prêmios sabe-se lá o porquê (mentira, sabemos). A Branca é excelente entrevistadora, mas aquele episódio foi, para mim, muito desconfortável pq ela estava dirigindo demais a entrevistada que, claramente, escreveu sobre o oposto do que a Branca queria ouvir. Não foi diálogo, foi uma tentativa de salvar alguém que, no entanto, não pediu para ser salva (não por mulheres, pelo menos).
Eu não disse que o objetivo da Vanessa era a reparação. Isso é uma interpretação sua. A análise é sobre o momento em que estamos vivendo partindo desses casos. Sobre o livro da Ligia, desculpe se interpretei erroneamente o fato de vc não ter lido. Para mim o livro parte de um outro lugar - ler esses homens não com devoção mas exatamente os tirando desse pedestal. Mas, mais uma vez, interpretações. Fico feliz que o texto tenha mobilizado essa conversa.
Foi muito bom te ler. Até para lembrar que a coisa é profunda, sistêmica e dá dinheiro. E vamos cuidar da tendinite 🧡
te amo, sabia? sua lucidez dói, mas é importante demais de ler.
uau. que prazer te ler por aqui. obrigada!
Texto denso a gente gosta! Ótimo recorte
completamente descaralhada da ideia ao descobrir a história do grupo do whatsapp dos alunos e também do tapete vermelho sem qualquer tapete. acho que vc é cirúrgica, não dá mais pra só falar. mas tbm não sei o que fazer. que angústia ser mulher!
Acho q foi uma goleada 🤪